Projeto de Filosofia do curso de Jornalismo da Faculdade Casper Libero
(1ºJOD)
Professor Dr. Dimas Künsch

Ignorantes

Histórico

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Breve comentário sobre O Mundo de Sofia


"A única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas."


O livro O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, logo que foi editado pela primeira vez, em 1991, já se tornou quase momentaneamente um best-seller, e ainda hoje continua atraindo toda sorte de leitores. A história do livro gira basicamente em torno da garota Sofia Amundsen, que às vésperas de seu aniversário de 15 anos, começa a receber cartas e postais misteriosos, com perguntas filosóficas do tipo: "Quem é você?", "De onde vem o mundo em que vivemos?", que depois irão se transformar num curso de filosofia à distância. Aí está o grande trunfo do livro: o leitor vai, junto com Sofia, absorvendo conhecimentos sobre a história da filosofia ocidental, desde os filósofos pré-socráticos aos pós-modernos, ao mesmo tempo em que se vê envolvido numa trama misteriosa que vai se desenrolando aos poucos.

Apesar de conter a evolução da filosofia ocidental, a meu ver, o objetivo principal do autor não é relatar aos leitores essa história, mas sim fazer com que estes não passem o resto de suas vidas protegidos sob "os pêlos do coelho" - usando palavras do livro - ou seja: que não percamos nunca a capacidade de nos admirarmos perante a vida, perante o mundo, pois é este o maior dom do filósofo: não ser indiferente àquilo que o rodeia, não deixar a vida se tornar uma coisa banal. Logo em uma das primeiras lições destinadas a Sofia, o professor anônimo a indaga:

"A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos (...) E agora tens que te decidir, Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?... Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente."

Para este professor anônimo, que depois revela sua identidade a Sofia, o mundo é como um coelho. As pessoas vivem suas vidinhas encobertas no fundo da pelagem do animal, pensando serem felizes, sem maiores preocupações (talvez, com o último capítulo da novela), tão acostumadas e resignadas que estão a tudo que acontece. Para elas, tudo é banal. A criança, quando nasce, não pertence a esta esfera. Ela está na ponta dos pêlos do coelho, querendo descobrir tudo, indagando, se surpreendendo. À medida que vai crescendo, ela vai afundando mais nos pêlos, até se tornar apenas mais um alienado igual aos outros.

A diferença entre uma pessoa comum e o filósofo está exatamente aí: ele nunca perde esta capacidade de se surpreender com o mundo, com a vida. Ele está na ponta dos pêlos, mas freqüentemente faz incursões ao fundo, tentando elucidar as pessoas da condição em que vivem e resgatá-las para a ponta, mas é difícil convencê-las, tão satisfeitas que estão, sentindo-se protegidas por suas rotinas mesquinhas e alienantes (qualquer semelhança com a alegoria da caverna não deve ser mera coincidência) .

E você? Quer passar o resto de sua vida confortavelmente encoberto, mas sem conhecer a verdade, ou prefere abrir seus olhos para a realidade, mesmo que isso possa lhe custar sua felicidade? Esta é uma questão há muito levantada pela filosofia, e que, de certa forma, está também presente no livro. Aí está uma ótima dica de leitura aos companheiros ignorantes!

Um comentário:

Anônimo disse...

Já tinha escutado a respeito do livro Mundo de Sofia... achei muito interessante o seu comentário Arícia... não devemos nos deixar encobertos!
Abraços